Desafios para a COP 30

Carol Tomaz
5 min readNov 27, 2023

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A COP28 já está chegando, e, apesar da minha ansiedade para saber como se desenrolará e se teremos mais ações do que acordos e promessas, estou preocupada com a COP30, que ocorrerá daqui a 2 anos aqui no Brasil, mais especificamente em Belém do Pará. Além de desejar conhecer de perto a Amazônia e suas questões socioambientais, minha vinda para cá está diretamente relacionada a essa COP. Queria conhecer Belém de perto e entender os desafios e complexidades do bioma mais diverso do mundo, que desempenha um papel vital em nossas vidas, independentemente de onde vivemos.

Além de abrigar a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia possui o maior estoque genético do planeta, a maior bacia hidrográfica e desempenha um papel crucial na regulação do clima. E 60% desse patrimônio está aqui, no Brasil. Mas paro por aqui, por enquanto, porque quero falar sobre Belém como sede da COP30.

Em pouco mais de 1 mês na cidade, confesso que estou receosa. Observo muitos problemas estruturais que, ao meu ver, indicam que temos pouco tempo para definir o rumo que tomaremos (se ainda não foram definidos).

Será que transformaremos esses problemas em oportunidades para a cidade e a região começarem a caminhar rumo a uma cidade que visa ser exemplo de sustentabilidade na Amazônia? Ou nos limitaremos a maquiagens para receber um evento apenas para “inglês ver”, sem fazer as mudanças estruturais necessárias?

Se optarmos pelo primeiro caminho, estou ciente de que será o início da trajetória, pois não acredito que em 2 anos resolveremos tudo. Até porque, o que tenho observado é que um dos maiores problemas envolve uma questão cultural profunda. E isso só muda com conscientização, educação cidadã e, claro, políticas públicas.

Entre os diversos problemas, destaco dois que são mais visíveis e que senti na pele: a questão do lixo e do transporte.

Belém é uma cidade absurdamente suja. No Brasil, é a primeira que conheço com essa questão tão visível. Nos bairros mais nobres, vi menos sujeira, pois percebi que os condomínios têm sua própria gestão sobre eles (estou agora em um apartamento em que todos os dias vem uma pessoa coletar o lixo na minha porta).

Contudo, nas demais partes da cidade, é visível a cada esquina. Não existem lixeiras, e as pessoas colocam seus lixos, sem separação, nas calçadas. Isso me incomodou muito quando estava em um bairro onde aluguei um kitnet e perguntei onde poderia colocar meu lixo. A resposta foi para deixá-lo embaixo da árvore na esquina. Perguntei se não havia outro lugar, uma lixeira ou caçamba, e disseram que não, que é assim que funciona ali.

Nem arrisquei perguntar sobre a coleta seletiva, pois sei que não existe. Também sei que o Pará, esse estado enorme, possui apenas um aterro sanitário (aterro de Marituba), o qual já extrapolou sua capacidade e se tornou mais um problema que a cidade enfrenta.

Onde colocar o lixo? Com essa falta de política pública, a população entra no clima, e com a ausência de lixeiras, conscientização e educação cidadã, é fácil observar que as pessoas também não têm cuidado de onde jogar seus resíduos. Nas periferias, é triste de ver. Tem de tudo, móveis, eletrônicos, roupas, comida, embalagens… Algo que, sinceramente, não vejo sendo resolvido em 2 anos.

Essa falta de políticas públicas reflete na população, que, sem lixeiras e sem conscientização, não se preocupa com o destino correto do lixo. “A cidade já está suja, jogo na rua mesmo”, ouvi de uma pessoa quando perguntei sobre uma lixeira em um parque.

Outro problema que tenho percebido é a dificuldade de locomoção. Ao estudar cidades, procuro sempre usar o transporte público local. Aqui está sendo um desafio, com ônibus demorados e em péssimas condições, e informações pouco claras para quem é de fora.

Uso o aplicativo Moovit em diversas cidades do mundo, mas aqui não funciona bem. O aplicativo informa o número do ônibus, mas aqui os motoristas não têm esse costume, o que torna a identificação da linha difícil. O GPS também não ajuda, e nenhum ônibus chega perto do horário previsto. Os pontos de ônibus são apenas pontos, sem sombra e estrutura mínima, salvo alguns lugares.

Muitas vezes, recorri ao Uber, mas também é desafiador, sem saber quanto tempo levará para aceitar a corrida. Já esperei 10 minutos para uma corrida de 15 minutos, o que me atrasou para uma reunião. Desafios logísticos que podem ser comuns para quem mora aqui, mas para quem vem de fora, são complicados. Ter um carro seria o ideal, mas e a poluição do ar? Uma cidade que sediará a COP precisa atentar para isso.

Enfim, como viram, Belém tem alguns desafios pela frente. Listei apenas 2, o lixo e o transporte. Mas, apesar de destacar esses problemas, vejo também como uma grande oportunidade para um novo caminho. Para isso é preciso reconhecer os problemas e, a partir deles, traçar um novo rumo. Se for uma intenção real, a mudança não acontecerá em 2 anos, mas esses 2 anos podem ser o início para os próximos 20 anos.

Sei que parece muito tempo, e nosso senso de urgência quer pressa. Mas criar planos de médio e longo prazo bem definidos foi uma das lições que aprendi com Medellín e seu processo de transformação social e cultural: as mudanças não acontecem rapidamente.

Para começar, é preciso traçar a visão de futuro sobre a cidade que queremos e, a partir daí, dar os passos em direção ao destino que Belém almeja. Destaco que Medellín investiu fortemente em educação cidadã, algo que Belém, além das políticas públicas necessárias, também deveria se inspirar.

Estou na torcida para que Belém escolha o primeiro caminho, e quero estar aqui para acompanhar de perto essa trajetória.

Fotos que tirei no centro, perto do hotel que fiquei quando cheguei

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Carol Tomaz
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Written by Carol Tomaz

Economista heterodoxa / Designer ecossistêmica

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